noticias do cafib

NOTÍCIAS

Circular Expo Itanhandu 2018

Idioma: português english castellano

107ª Exposição Nacional do Fila Brasileiro

11ª Exposição do Fila Brasileiro de Itanhandu

expo itanhandu

O viajante que pela primeira vez percorre as montanhas de Minas Gerais em direção a Itanhandu fica admirado ao contemplar as vacas leiteiras que, com bovina indiferença, afrontam serenamente a lei da gravidade a caminhar dolentes, ou a ruminar pachorrentas, naquelas pastagens suicidas, semeadas em escarpas quase verticais, mais apropriadas à criação de cabritos monteses, e onde as braquiárias começam a ocupar o lugar dos tradicionais capins gordura e jaraguá. Esse belíssimo cenário, em que as florestas tropicais da Mata Atlântica entremeiam-se com bosques de araucárias, situa-se em uma das regiões de maior altitude no Brasil, onde, muitas vezes, a temperatura despenca para quatro ou cinco graus abaixo de zero. Ali a fauna e a flora são exuberantes – com enorme variedade de aves, bromélias e mandacarus – e entre os altíssimos picos precipitam-se tantas cachoeiras que os índios passaram, poeticamente, a chamar esse lugar de Mantiqueira, palavra Tupi que significa “serra que chora”. Fundado no século XIX, o município de Itanhandu, além de rico em quedas d’água, corredeiras e poços, tem como uma de suas principais atrações turísticas a nascente do Rio Verde, cujo curso desce, serpenteando, pelas encostas escarpadas. Juntamente com outras sete cidades turísticas – Aiuruoca, Alagoa, Itamonte, Passa Quatro, Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde e Virgínia – Itanhandu faz parte da região chamada de Terras Altas da Mantiqueira, assim como de sua Área de Proteção Ambiental.

expo itanhandu

Além disso, Itanhandu integra também a região mais expressiva na história do Fila Brasileiro e de seu reconhecimento oficial e internacional no século XX: essa área do Sul de Minas Gerais percorrida pelo advogado Paulo Santos Cruz nos anos 1940 e de onde ele trouxe os primeiros exemplares, que viriam a constituir a pedra fundamental de seu lendário Canil Parnapuan. Nesse cenário histórico para a raça, na também histórica Fazenda Guapiara, pertencente a Cíntia e Gérson Junqueira de Barros, já se tornou tradição a realização do grande evento que, todo os anos, marca a abertura do Calendário de Exposições do CAFIB. Aliás, Gérson tem o Fila Brasileiro gravado em seu DNA, por pertencer à família de antigos criadores e ser sobrinho-neto de Pedrinho do Engenho, como era conhecido Pedro Ribeiro Junqueira de Souza, um dos mais importantes selecionadores da raça no século passado. Além disso, Gérson tinha, ainda, muito contato com o fazendeiro João Costa, cujo tradicional canil, em Itanhandu, nós, do CAFIB, também visitamos no início dos anos 1980. Pedrinho – que era irmão do avô de Gérson, Francisco Ribeiro de Andrade Junqueira –, depois de ter se formado na Escola Federal de Farmácia de Alfenas, voltou a sua cidade natal – então, Silvestre Ferraz, hoje, Carmo de Minas – e passou a administrar a Fazenda do Engenho, pertencente à sua família, onde deu continuidade à criação de cães Filas Brasileiros, iniciada por seu avô paterno, Joaquim José de Faria e Souza, em 1850.

expo itanhandu

Nestas circulares, em que, além de veicular notícias, também procuramos registrar a memória do CAFIB e do Fila Brasileiro, justifica-se a lembrança do encontro histórico entre três veteranos criadores, considerados pilares da preservação e do melhoramento da raça no século XX. Em outubro de 1981, Airton e eu promovemos, em Varginha, no sul de Minas – por ocasião da Análise de Fenótipo e Temperamento que o CAFIB ali realizou –, o reencontro entre Paulo Santos Cruz (Santos, SP), José Gomes de Oliveira (Varginha, MG) e Pedrinho do Engenho (Carmo de Minas, MG). A fotografia desses três veneráveis decanos ilustra a capa do boletim “O Fila” de nº 31.

expo itanhandu

E, por falar em história e tradição, neste ano de 2018, o CAFIB, nesta 107ª Exposição Nacional do Fila Brasileiro e 11ª Exposição do CAFIB de Itanhandu, no domingo, dia 8 de abril, orgulhosamente, e em grande estilo, deu início às comemorações de seu 40º aniversário quebrando o recorde registrado no ano passado, quando ali tinham sido julgados 72 Filas, e alcançando agora a impressionante marca de 101 cães na pista da Fazenda Guapiara.

Vale a pena deter-nos um pouco mais em alguns aspectos dessa interessante propriedade, onde também está instalado um antigo alambique, hoje arrendado, que produz a premiadíssima cachaça “Excelência”, que, até na Bélgica, já venceu concursos de qualidade entre as melhores aguardentes do mundo. As impressionantes, e impecavelmente limpas, instalações do também premiadíssimo Canil Itanhandu se estendem por uma vasta área que abriga dezenas de fêmeas de cria, diversos machos reprodutores e muitos cães jovens, de variadas idades. Próximo dali, em outro conjunto de canis, são criados, ainda, numerosos exemplares da raça de cães de luxo e companhia aqui antigamente conhecida por Lulu da Pomerânia, na França, por Loulou de Poméranie, na Itália, por Volpino e na Rússia, por Laika, e, hoje, internacionalmente padronizada com a denominação germânica Spitz Anão. Esses cãezinhos são descendentes miniaturizados do Grande Spitz Alemão e tornaram-se extremamente populares na Inglaterra por terem sido a raça preferida da rainha Vitória que, no fim do século XIX, adquiriu seu primeiro exemplar em Florença e, depois, passou a criá-los em mais larga escala e a apresentá-los em exposições.

expo itanhandu
Antônio Santos Silva Novaes, do Canil Aldeia dos Tigres

No período da manhã de domingo, foi realizada a Análise de Fenótipo e Temperamento, com a presença de 16 Filas. Desses, 14 (87,5%) foram aprovados e 2 (12,5%), reprovados por reação desqualificante nas provas de temperamento e sistema nervoso. Atuaram no evento 6 juízes do CAFIB. Além de Airton Campbell (São Paulo, SP) e eu, Américo Cardoso dos Santos Jr. (Vargem Grande Paulista, SP), responsáveis pelo julgamento da Exposição, também desempenharam diversas funções Giovani Éder Florêncio de Carvalho (Aparecida, SP), Fabiano Gonçalves Nunes (Guaratinguetá, SP), Jonas Tadeu Iacovantuono (Guaratinguetá, SP) e Mariana Campbell (São Paulo, SP). Foi, ainda, muito importante a atuação de Bete Hino (Guarulhos, SP), que auxiliou os juízes por estar em processo de preparo para também integrar o Quadro de Árbitros do CAFIB; de Cleide Cocito Cardoso dos Santos (Vargem Grande Paulista, SP), no apoio à secretaria; de Bruna Frias (Aiuruoca, MG), responsável por fotografar os cães analisados; de Cíntia Junqueira de Barros (Itanhandu, MG), que fotografou a Exposição, e de Cristiano Gonçalves Vieira (São Bernardo do Campo, SP), que utilizou um drone para gravar as imagens aéreas.

expo itanhandu
Airton, Beth e Américo

O CAFIB destaca e agradece a presença de importantes personalidades, entre criadores, expositores e entusiastas da raça, vindos de diversos estados brasileiros e de outros países. De Minas Gerais, tivemos representantes de Aiuruoca, Baependi, Campo Belo, Igaratinga, Itamonte, Itanhandu, Passa Quatro e Perdões. Os paulistas foram representados por participantes de Aparecida, Biritiba Mirim, Caçapava, Guaratinguetá, Guarulhos, Jacareí, São Bernardo do Campo, São Carlos, São Paulo, Suzano e Vargem Grande Paulista. Goiás foi representado por Aparecida de Goiânia e Goiânia. Registramos também a presença de aficionados do Maranhão, vindos das cidades de Caxias e São Luiz; de Teresina (PI), do Rio de Janeiro (RJ) e de Pinheiro Machado (RS).

É sempre motivo de orgulho para o CAFIB receber a visita do casal Marisa e Shoji “Jorge” Hino, titulares do premiado Canil Hisama (Guarulhos, SP). Destacamos ainda a presença de Carlos Eduardo “Pipico” Gonçalves, do Canil Borghetto, do Rio Grande do Sul e de Leo Lima, do Canil Itapi, do Piauí. Agradecemos também o comparecimento dos maranhenses dr. Aluísio Mello e dr. Ricardo Chaves.

expo itanhandu
Felício B. Unello do canil Chapéu Preto e Zenon G.Cousillas do canil Timbués, da Argentina

E nas delegações estrangeiras que nos honraram com sua presença estavam Zenon Gustavo Cousillas, da Argentina, e nossos representantes Cindy e Juan Carlos Hernandez, de New Jersey, nos Estados Unidos. Vale ressaltar o comparecimento do simpático, entusiasmadíssimo e sempre presente casal José Mário Rojas Ocampo e Lígia Chaves Rodrigues, titulares do Canil El Isidreño, nossos amigos que representam o CAFIB na Costa Rica.

Aliás, sobre a República da Costa Rica, justifica-se aqui o registro de uma curiosidade cinófila. Nesse país, em Santa Bárbara de Heredia, próximo a Carrizal de Alajuela, foi instalada, em 2008, a instituição denominada Território de Zaguates, pelo casal Lya Battle e Álvaro Saumet. “Zaguates” é a palavra local para designar os cães de rua, sem raça definida – os até hoje aqui chamados de “vira-latas”, nome que, há muitos anos já poderia ter sido modernizado para “rasga-sacos”, uma vez que a população mais jovem nem chegou a conhecer as antigas e anti-higiênicas latas de lixo enfileiradas ao lado dos portões, aguardando para serem despejadas nos caminhões de coleta e, depois, repostas nas calçadas para receber os resíduos do dia seguinte.

Na Costa Rica, o Território de Zaguates foi criado para promover o bem-estar de cachorros abandonados, ou sem donos, e, nos fins de semana, fica aberto, com entrada gratuita, ao público interessado em caminhar por suas trilhas montanhosas, acompanhados pela impressionante e heterogênea matilha composta por centenas de exemplares dos mais variados tamanhos, conformações, pelagens e colorações. Ali, o número de inquilinos é, evidentemente, variável (algo entre 700 e 900 cães) porque muitos são constantemente adotados por novos donos, enquanto outros não param de chegar. Além de nunca serem sacrificados, todos os que não conseguem lares adotivos recebem um nome e uma bem-humorada denominação para sua estirpe (da qual cada um é o solitário representante). Entre essas lá chamadas “Razas Únicas de Costa Rica” podem ser vistos o “Border Cocker”, o “Collie Terrier do Alasca”, o “Dobernauzer Alemão”, o “Schnaufox”, o “Irlandês Patilargo” e o “French Pumi Chamuscado”, assim como centenas de outros, estampados em quadros ilustrativos em que, ao lado da figura, também estão especificados esses nomes originais criados por um grupo de imaginativos publicitários. A instituição arca com altas despesas – cerca de 20 mil dólares por mês – bancadas pelo casal de proprietários, por um grande patrocinador, por pessoas que simpatizam com o projeto, por visitantes que deixam pequenos donativos e por variadas doações feitas pela Internet. Voluntários também ajudam a limpar os canis, a alimentar e até a banhar os cães.

E, por falar em curiosidades da Costa Rica – nação com mentalidade tão pacífica que há mais de 50 anos extinguiu o Exército e onde as ruas não têm nome e as casas não têm número –, vale lembrar que esse pequeno país, banhado de um lado pelo Oceano Atlântico e, de outro, pelo Pacífico, é o único da América Latina listado entre as 22 democracias mais antigas do mundo. Conta com um índice de 96% de alfabetização em sua população, que tem o costume de comer feijão com arroz no café da manhã, de colocar pedras de gelo em seus copos de cerveja e é considerada a mais feliz do mundo pelo Happy Planet Index. Orgulha-se, ainda, de ser detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta (com a maior densidade e variedade de orquídeas entre todas as nações, registrando a impressionante marca de mais de 1000 espécies dessa flor) e de ter se tornado referência mundial no uso de fontes alternativas de energia. E agora, seu governo dá outro exemplo para o mundo ao anunciar que, em dez anos, todos os zoológicos do país serão fechados e que seu Ministério do Meio Ambiente, ao desativar as jaulas, pretende reforçar ainda mais a biodiversidade local em parques botânicos e em refúgios naturais com condições perfeitamente adequadas à proteção e reprodução de animais silvestres.

Voltando ao sul de Minas, informamos que os 101 Filas participantes da Exposição foram distribuídos, por idade e sexo, nas seguintes classes:

expo itanhandu

Filhotes incentivo: 11 machos e 15 fêmeas

Filhotes: 13 machos e 21 fêmeas

Novos: 5 machos e 7 fêmeas

Jovens: 3 machos e 8 fêmeas

Adultos: 7 machos e 11 fêmeas

No total, foram julgados 39 machos (38,61%) e 62 fêmeas (61,39%).

O CAFIB sempre priorizou a qualidade e não a quantidade, mas é evidente que o ideal é a combinação de número grande de inscritos com nível alto de características fenotípicas, como aconteceu nesta Exposição. Quarenta e três Filas (42,57%) receberam a qualificação Muito Bom, medalha de prata, e 58 (57,43%), Bom, medalha de bronze. Nenhum foi qualificado como Regular.

expo itanhandu

​O resultado das principais classes da 107ª Exposição Nacional do Fila Brasileiro e 11ª Exposição do CAFIB de Itanhandu foi o seguinte:

Melhor Macho: Kratos do Itanhandu, de Brenda e Rodrigo Queiroz (Patrocínio, MG)

Melhor Fêmea: Sevilha II do Itanhandu, de Cíntia e Gérson Junqueira de Barros (Itanhandu, MG)

Melhor Cabeça: Sevilha II do Itanhandu

Melhor Temperamento: Lyoto Fila Roots, de Alessandro Castro Bueno (Aparecida de Goiânia, GO)

Melhor Tigrado (menos de 1 ano): Bell IV Guardiães do Caracu, de Wilson Vilela (Campo Belo, MG)

Melhor Tigrado (mais de 1 ano): Marabá III de Santa Luzia, de Newton Filizola (São Carlos, SP)

Ressaltamos que a criação dessas duas categorias, que escolhem os melhores tigrados, com menos e com mais de um ano, foi uma louvável iniciativa de nosso juiz honoris causa, Francisco Peltier de Queiroz e que, por isso, esses dois premiados recebem o Troféu Chico Peltier. É que, no início do trabalho do CAFIB, havia importantes exemplares com essa pelagem se destacando nas Exposições da época, como Castor de Tamakavi, Leãozinho do Aquenta Sol, Dendê da Fazenda Malota, Oscar do Ibituruna e tantos outros. Com o correr do tempo, e sem qualquer razão específica, os tigrados foram se tornando cada vez mais raros e quase desapareceram das pistas. Hoje, graças a esse novo incentivo, seu número tem voltado a aumentar. Nesta Exposição, foram apresentados 17 Filas tigrados (16,87%), um número significativo, quase chegando ao patamar histórico, que, tradicionalmente, ficava em torno de 20 a 25%.

Vale destacar, ainda, a importante participação do criador argentino Zenon Cousillas, que atuou com competência nas provas de temperamento, auxiliando o cobaia Dionísio Rabello. Zenon, que tem bastante experiência com Filas, forneceu aos juízes importantes observações sobre a espontaneidade, a segurança e o ímpeto real do ataque de cada exemplar, assim como sobre a força e a violência da mordida sentida em seu braço protegido pela manga acolchoada de couro.

expo itanhandu

Ao final do evento, como de praxe, o organizador e anfitrião Gérson Junqueira de Barros, antes de convidar os presentes para a tradicional feijoada preparada por Dona Elza Júlio, ao proferir suas palavras de encerramento, entregou uma homenagem do Canil Itanhandu a nós, juízes fundadores do CAFIB presentes, Airton Campbell e eu, Américo Cardoso dos Santos Jr., ao também juiz fundador Luiz Antônio Maciel e ao “Pai do CAFIB”, Francisco Peltier de Queiroz, “pelos 40 anos de fundação do Clube e pela incansável dedicação à preservação do Fila Brasileiro”. Sem falsa modéstia, na verdade, sentimos imenso orgulho pela nossa ininterrupta e eficiente atuação nestas últimas quatro décadas e pelas conquistas que temos alcançado.

O resultado completo desta mostra será brevemente publicado por nossa Diretoria de Divulgação, no site: www.cafibbrasil.com, ou www.cafib.org.br. E nosso próximo evento será a 5ª Exposição do Fila Brasileiro de Jacareí, SP, no dia 20 de maio de 2018, no Parque da Cidade, organizada por Flávio Pires, do Canil Palmares, e julgada por Mariana Campbell e Pedro Carlos Borotti.

selo cafib

Voltar