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Entrevista concedida pelo Dr. Enio Monte

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Declarações feitas por Dr. Ênio Monte, 82 anos, engenheiro civil formado pela escola Politécnica da USP em 1951, proprietário do Canil ABC – SP – Brasil, um dos grandes criadores de Fila Brasileiro nas décadas de 60, 70 e 80; no dia 16/07/11 na Sociedade Hípica Paulista, São Paulo, em entrevista concedida a Francisco Peltier, Airton Campbell, Mariana Campbell, Américo Cardoso dos Santos e Mariana Cardoso dos Santos Abate, conforme gravação em fita:

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Mariana, Airton, Ênio Monte, Americo, Mariana e Chico Peltier.

O Dr. Ênio contou que em 1970 idealizou uma nova raça de cavalo para salto cruzando garanhões de diversas raças européias (principalmente alemãs) com éguas de várias outras raças. O objetivo era conseguir cavalos que saltassem alto e bem para competições de hipismo.

Com os resultados obtidos nos produtos, definiu-se que as éguas deveriam ser da raça Puro Sangue Inglês. Como Dr. Ênio já criava Fila Brasileiro, resolveu denominar a nova raça de Cavalo Brasileiro de Hipismo (B H). Em 1977 Dr. Ênio fundou a associação de criadores. Hoje, após 41 anos de criação, Dr. Ênio é presidente do conselho dessa associação, que possui cerca de 400 sócios e o Brasileiro de Hipismo é uma raça de cavalos de salto conhecida no mundo inteiro. O Brasil passou de importador de cavalos de hipismo para exportador. O Dr. Ênio disse que sempre acreditou que o melhoramento genético de qualquer raça e de qualquer animal só se faz com introdução de outra raça para dar um choque de sangue.

Com relação ao Fila Brasileiro o Dr. Ênio informou que:

Conheceu o cão boiadeiro ainda jovem estudante, quando morava no bairro do Ipiranga, em São Paulo, e via os cães acompanhando boiadas que se dirigiam ao matadouro.

Após formado engenheiro em 1951, passou a construir prédios para cinema em diversas cidades do interior de São Paulo.

Naquela época, conheceu Dr. Paulo Santos Cruz que havia elaborado o padrão, oficializado o nome da raça Fila Brasileiro e estabelecido a teoria que o Fila descende do caldeamento entre antigos exemplares  Bloodhound , Bulldog e Mastim Inglês (Mastiff). Dr. Paulo pediu a ele que, nas viagens a trabalho, se informasse da existência de Filas nas fazendas do interior de São Paulo e do Sul de Minas.

Dr. Ênio acabou trazendo diversas fêmeas de origens diferentes e as acasalava principalmente com Orixá de Parnapuan, que havia ganhado do Dr. Paulo.

Com relação ao intuito de melhoramento genético da raça Fila, Dr. Ênio disse:

“Na minha opinião o ideal seria um choque de sangue com a raça formadora do Fila Brasileiro e ai eu importei um cão da raça Mastiff  Inglês. Veio um cão muito bonito, mas era inferior ao Orixá de Parnapuan, mas não consegui usá-lo na reprodução, pois não era fértil. Eu soube então que o João Batista Gomes trouxe outro Mastiff e conseguiu reproduzir com ele. Era um cão muito grande, forte. Os descendentes do Mastiff do João Batista Gomes deram bom resultado, tinham bom tipo e temperamento, ao contrário dos descendentes do Mastim Napolitano que eram imprevisíveis. Tive diversas ninhadas, de A até Z, cada ninhada começava com uma letra.”

Dr. Ênio disse ainda:

“O que eu achava era que esse choque de sangue seria muito bom porque a gente tinha as cadelas Filas de diversas origens (de Varginha, Silvestre Ferraz, perto de São Lourenço, sul de Minas), então o ideal seria dar um choque de sangue com a raça formadora, no caso o Mastim Inglês. Ai eu soube que alguém trouxe o Mastim Napolitano, era um parente daquele criador do Km 26 (Antenor Lara Campos – o Tozinho), mas estes Mastins Napolitanos tinham um problema, eram cachorros muito traiçoeiros, eles tiveram muitos problemas com estes cães. Eu entendia que o ideal seria continuar fazendo cruzamentos com Mastim Inglês para voltar à origem. O Napolitano já era um cruzamento paralelo que não deu muito certo.”

“O Mastiff do Ibrahim era originário da criação do João Batista Gomes, que deu bom resultado. O Mastim Inglês era dócil. O Napolitano era meio imprevisível.”

Neste momento do encontro foi feita a seguinte pergunta por Airton Campbell: Naquela época, para registrar cães no BKC, havia a idéia de se criar uma nova raça, por exemplo, o Mastim Brasileiro, para receber os produtos oriundos destes cruzamentos? Existia um livro paralelo no Kennel Club Paulista ou no Brasil Kennel Club para registrar e controlar estes cruzamentos do Fila com outras raças?

Dr. Ênio respondeu: “Não! Não teve isso não”.

Em seguida Francisco Peltier mostrou ao Dr. Ênio inúmeras fotos de filas mestiços com pedigree de Fila emitidos pelo BKC. Dr. Enio desaprovou a maioria dos fenótipos, principalmente os atarracados como os Mastins Napolitanos ou os “adogados” como Dinamarqueses (Great Danes ou Dogue Alemão). Dr. Ênio acrescentou que os cães do tipo “atarracados” lembravam os antigos paqueiros e pequineses. “Esses cães atarracados, com pernas curtas, estão realmente fora do padrão do tradicional Fila Brasileiro, parecem ser de outra raça”.

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